Heróis de Pires na Mão
Imagine a cena: um cabra da peste, com a força de um touro e a agilidade de um calango, treinando debaixo do sol quente do nosso Nordeste. Ele sonha com o ouro olímpico. Mas, antes do pódio, ele sonha com o prato de cuscuz garantido no fim do dia. Parece piada, mas é a realidade nua e crua do esporte no Brasil.
A gente se enche de orgulho, grita, chora com cada medalha. É lindo ver a bandeira subindo. Mas, por trás daquele sorriso no pódio, existe uma história de perrengue que daria um filme de drama com pitadas de comédia.
Treino, Suor e Boletos
Ser atleta por aqui é quase um ato de teimosia. É vender rifa pra comprar uma sapatilha nova, é contar com a ajuda da família pra pagar a inscrição do campeonato. É ouvir que “esporte não dá futuro” e, mesmo assim, acordar às 4 da manhã para treinar.
O Brasil, essa pátria mãe tão distraída, aplaude a vitória, mas vira as costas para a jornada. O investimento é tão raro quanto chuva no sertão em pleno verão. Os nossos guerreiros e guerreiras precisam escolher entre a performance e a sobrevivência. E, sejamos sinceros, barriga vazia não sobe em pódio nenhum.
Enquanto a estrutura não vem, eles seguem na raça. Transformam a falta de apoio em combustível, a dificuldade em degrau. São a prova viva de que o talento brasileiro brota em qualquer solo, até no mais seco e esquecido.
No fim, o maior troféu do nosso atleta é a teimosia de não desistir do Brasil, mesmo quando o Brasil parece ter desistido dele.
Beto Águia